quinta-feira, 31 de maio de 2007

Te quero sozinha. Porque minha vida é só. E a vida é só para qualquer um. Te quero sozinha, como a um pasto. Grama solta e baixa, mas aos joelhos afunda. Eu quero a loucura de caminhar só. E caminhar já é loucura, porque o fogo queima a mata que é seca, e tudo que é seco é só. Te quero sozinha, como arde a brasa dos meus anos eternos. E tudo que é eterno acaba um dia. Um dia só. Quero inaugurar a folia do carnaval atômico. Aliviar as preces dos palhaços atônitos. Mendigar a última moeda do infinito que me resta. Receber minha solidão sozinho. Sem ninguém a barca voa. Quero me juntar ao vácuo dos tempos. E me precipitar no chão onde a chuva há de cair. Só. Tudo que cai cai só. Te quero sozinha, porque me excita a tua solidão. E do fundo do meu coração componho uma rosa de verão. Não existe canto além do canto só. A interseção da sala vazia, o princípio da mesa só. Te quero sozinha e mágica, como a árvore dos dias, a cor dos interstícios, a harmonia dos cânticos que restam. A anatomia do trágico é uma queimada. Quero te só, pois só assim estarás comigo.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Criminosos

Viver é cometer um crime
E como todo crime
O importante é deixar vestígios
Pistas
Não se passar impune
Afinal, todos seremos presos um dia
É nossa condição
Fomos escolhidos por Deus
Na noite dos tempos
Os criminosos mais perfeitos

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Será?

Uma grande amiga minha, inteligente e culta, sempre diz que a burrice é uma dádiva.

"Poor Nietzsche ended by signing his letters 'Nietzsche Caesar' and died in a madhouse. Perhaps that is the price to pay - at any rate by the intelligent; for the placidly stupid never pay, just as they never recieve, anything - for an unfalltering conviction of superiority."

Aldous Huxley

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Eu espero (espero que sim...)

Tentativa:
Rezo meus sonhos
Revolvo minha terra
Semeio um pedaço de mim
Espero, espero, espero...

Ao encontrar uma bela mulher
Nunca peça o telefone
Dê o seu
O importante é plantar sementes.

sábado, 19 de maio de 2007

Y=X?

Hoje em dia eu vejo pessoas que procuram amor no sexo, e que quando querem sexo procuram no amor. Afinal, quem procura sexo vai encontrar sexo. Da mesma forma, o amor a gente encontra é no amor.

Que tendência é essa que o ser humano desenvolveu de procurar x no y, e y no x? Não seria essa uma fuga da realidade? Afinal quem deseja realidade deve procurá-la nunca no sonho, mas nela mesma.

Acho que as coisas andam tão difíceis hoje em dia, a luta diária, a busca por necessidades supérfluas, a dor de não alcançá-las acaba se confundindo com a dor de não alcançar o ideal romântico, seja qual ele for.

E penso que a razão disso tudo acaba sempre sendo uma razão de ordem econômica. Sempre bem escondida sob o véu do Lexotan.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Arte

Esse mundo está equivocado. A cantora não tem que ser bonita, nem o compositor tem que subir no palco e contar piadas, nem o cantor tem que ter olhos verdes, nem o ator tem que tirar a roupa, nem o escritor tem que fazer rir em feira literária, etc.

Billie Holiday era puta e feia. Dostoievsky era um neurótico, viciado em jogo. Balzac morreu trancado num quarto escrevendo até não poder mais. Poe morreu bêbado na sarjeta. Bach foi esquecido por cem anos. Mozart morreu louco como indigente. Quase ninguém nunca ouviu falar de Assêncio Ferreira. Quase todos os grandes músicos de jazz enterraram suas miseráveis vidas na heroína. Aldous Huxley nunca escreveu um livro alegre. Tchekov também não. Os músicos românticos morriam de tuberculose e absinto. Noel compôs Último Desejo, tísico, no leio de morte. Oscar Wilde foi preso e condenado ao ostracismo até sua morte.

Eu tenho pena desse mundo de hoje em dia, que cultiva a alegria do artista como forma de entretenimento e talento. Toda arte apenas alegre está necessariamente voltada à alienação das massas. Essa arte é burra, e não me interessa. Só vejo beleza na profundidade das coisas, que é o esconderijo do artista, a caverna do mundo, a fantasia que esconde. O artista verdadeiro não é um palhaço tentando agradar uma platéia. O artista verdadeiro é um ser sofredor, que vive sua arte como forma de canalizar e expelir toda sua dor. Porque não existe arte sem dor. Porque arte dói.



quinta-feira, 17 de maio de 2007

Prisão Domiciliar

Alô, amigos. Essa é a minha primeira postagem nesta continuação do meu blog primeiro e único, Desentupidor Cultural. Esta é a segunda versão, pois a primeira se encontra trancada nos meandros virtuais, devido ao meu esquecimento: da senha e do login. Isso mesmo. Depois de tanto tempo sem postar no blog eu finalmente esqueci como se entra no meu próprio blog. Óbviamente a Google (que adquiriu o serviço do provedor Blogspot) não me ajudou em nada, e tem todo o direito a isso, pois o erro foi meu. Eu não lembro nada mesmo.

E pra começar bem, já falando em prisão virtual, neste exato momento são nove e vinte da manhã. Eu passei a noite na esbórnia, mas uma esbórnia tranquila no Letras e Expressões do Leblon, conversando com amigos, comemorando um inusitado aniversário de uma loura inusitada, comendo bolo, bebendo meu mate Leão e falando nadas-com-nadas. Mas neste exato momento eu me encontro trancafiado no apartamento onde moro, porque o povo que mora comigo saiu, trancou a porta do corredor (É, isso existe!), e minha chave e o meu celular ficaram privados de mim, na cozinha.

Disso tiro algumas conclusões: Sou um pouco pouco cuidadoso. Os que me deixaram aqui também o são, mas nem tanto. A liberdade é uma merda quando não se a tem. A liberdade é ótima. As portas são mesmo feitas pra serem portas. Uma fechadura, por mais simples e ridícula que seja não deve ser ridícula pro chaveiro. Clips de arame não servem pra nada. A impossibilidade é feita de gesso. Ficar preso em casa só é bom quando a gente quer.

Portanto eu preso aqui, e meu velho blog preso, não seremos esquecidos.

O blog continua aqui e agora!

Quanto a mim, esperarei pacientemente alguém vir me tirar daqui. (E ainda bem que não moro num andar alto.)