domingo, 30 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo

Ano novo, copacabana te rege em espetáculo de museu. Já te vi de todos os ângulos. Te conheço assaz bem. Tua virtude não existe. Vens para ser o que serás. Não depende de ti tua inglória imaginação, apenas expectativas e bla-bla-blas. Não tens culpa de ser o escolhido. Vais fazer jus à multidão de infames e loucos, e infantos, e bastardos, e crentes, e gente boa que te espera?

Ano novo, ano feliz por "advance". És como um cartão de crédito. Paga-se com o que não se têm. Mas também é um salário recebido em "cash", no início do mês. Portanto és uma bolha econômica que com certeza há de explodir.

Ano novo dos mendigos, dos velhos, dos jóqueis, das meretrizes, das diretrizes, das roubalheiras mundo afora, dos inválidos, dos infelizes, dos palhaços, dos rasta-pés, dos beija-flores e dos ratos. Dos enganados, dos culpados, dos bispos, dos esperançosos, dos que brindam com Cidra, e dos que chutam pelas ruas seus Veuve Clicquot. Das multidões de primatas que perambulam pela orla à espera de um feixe de luz. Ano aristotélico, cumprindo sua espiral filosófica. Ano medieval!

Também ano dos felizes, dos que sabem carregar a vida, dos raladores, dos prognatas, dos fortes. Ano dos militares de si, dos gladiadores do dia a dia, dos que não se entregam. E dos que precisam de uma mão amiga. E dos que as darão. Ano das famílias, ano dos que usam óculos escuros ante os fogos. Ano de quem enxerga. Pois quem enxerga sabe que esse dia não significa nada além de uma esperança momentânea de paz. Ano dos inteligentes, que são feitos de azeite, e que não se misturam com água. Ano das curas.Ano dos que não vão mijar na rua só por diversão. Ano dos que vão pra frente porque atrás tem gente, e cada ano, mais! Ano de mim.

Ano dos aterros econômicos, das crises renais mundiais, ano de fartura ou não, ano de poker, de apostar sem saber, de planejamentos televisivos, e erros de personalidades comparáveis a deuses. Ano de amar, mesmo sem ser correspondido. Ano de corresponder amores intransponíveis. Ano de guerras e de terras e de quimeras e de esperas.

Ano bem-ditoso, se prepare: vou comer teu cu!




sábado, 29 de dezembro de 2012

Ano Velho

Ano que vai, ano que vem...
Vem... Não!
Vai, vai, vai!
Vai embora logo antes que o outro chegue!
Que o outro chegue e te veja nu!
Desvendado! Roubado! Suprimido! Escandalizado!
Vá embora!
Antes que chegue a hora!
Que o outro te devora!
Com suas esperanças aflitas
Seus sonhos de telescópio
Suas bocas de predadores
Suas bombas vadias!
À vida... que viva!
Vai embora!
Antes que a sua vergonha seja vista!
Sua pamonha já foi consumida!
Sua vergonha já dividida!
Sua trompa já foi contida!
Nada sairá de você!
Podia até ir na hora certa... mas não!
Vá agora! Vá antes!
Pois foi um péssimo elemento!
Foi um ano assassino de dias!
Foi um ano sem tempo, sem casa,
Um ano de sarjeta, de lixo...

Não quer ir antes, tudo bem...
Mas não se atrasa!
Ano de merda...
Vou te esperar armado de rolha!
Meu fuzil de vinho vai acertar sua bunda
E vai embora para os livros!
Para o papel!
Lembrado para sempre...
Esquecido por todos...





quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Charge



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal

Desejo que nesse natal as pessoas aprendam a realizar seus bons pensamentos, se é que elas têm. Se não tiverem: que venham a ter. Que parem de fazer merda. Que se amem sem hipocrisia, e que curtam a vida e a arte, não como matéria de consumo, e sim como algo valioso. Que os ladrões sejam presos, que os políticos sejam menos mentirosos. Que este teatro infeliz que é o mundo se transforme em algo bom. Não sei como. Nem acredito em Natal. Acredito no ser humano, e espero, sinceramente que um dia ele não precise de Natal pra tentar! praticar o bem. Abraços!








NATAL BRASILEIRO

O que é o natal?
Natal é um papai noel insoneiro
Com rennas ganhando décimo terceiro.




sábado, 22 de dezembro de 2012

Brasil

Entro numa farmácia bem grande e pergunto ao responsável:

- Vocês vendem Whey Protein?
- Não.
- Você sabe o que é whey protein?
- Não.




sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

FIM DO MUNDO

Todo natal / ano novo eu me sinto assim: perdido na imensidão de um panetone. E o tempo vai passando, e as notícias vão se sucedendo, e os amigos vão se revelando, e de repente eu me grudo numa armadilha de chocolate, entre fibras de pão doce, e não saio mais. 

Talvez isso me salve do fim do mundo, que é hoje, por sinal. Mas no momento cozinho um ovo às 8:50h da manhã, o que pra mim já representa um fim de mundo. Especialmente não tendo dormido a noite inteira e com muitas coisas a realizar durante o dia. Mas é isso ai: CHOCOTONE na alma!

Falando de fim do mundo, eu que tenho certeza de que alguma coisa vai acontecer, em algum nível, em algum lugar do universo, em alguma cabeça, em alguma história porvir, sinto uma brisa de leve e longínqua, nos meus bens materiais. Não adianta guardar dinheiro, nem ganhar, se o mundo tá se finando.

Acho que os Maias têm alguma razão. Não sou místico a esse ponto nem nada. Mas acredito que talvez esse fim de mundo tenha sido adiado por ordem divina, ou por atraso inglês. Fosse predito por suíços com certeza já teria acabado... mas sul-americanos...sabemos como funciona né? Nada dá certo, ou nunca acontece na hora exata. 

Só sei que sinto no ar uma carruagem de mudanças (sweet chariots...). E acho que esse fim do mundo só pode ser duas coisas: ou o mundo já acabou e os Maias apenas nos quiseram avisar disso, já que ninguém realmente percebe; ou uma nova era de mudanças radicais começa agora, no dia 21, e só será sentida com o rolar do tempo que virá.

Tanta tristeza no mundo... acho realmente que ele já acabou e ninguém viu. Talvez seja essa a real mensagem profética dos Maias. Mas também acreditar num povo que comia corações de gente viva é meio burrice, né?

De qualquer forma talvez o chocotone nos salve dessa hecatombe geral.



terça-feira, 18 de dezembro de 2012

And The Wind Cries Mary

Entro num bar de estrada, todo de madeira, balcão antigo encostado no fim. No fim tudo é antigo nessa vida. O pianista, negro, de barbas brancas repletas de perdão, toca uma linda música. "The Way You Look Tonight", de Jerome Kern, um gênio. Uma linda mulher canta como uma fada. Loura, magnífica, olhos azuis, mas o que eu escuto mesmo, dentro dos meus ouvidos, é a Ella Fitzgerald - feia e maravilhosa. Pelos cantos pessoas cumprem suas funções, desapercebidas do todo e da música. 

Entra um vento como a me seguir. Somos sempre seguidos pelo vento. Essa é a impressão que há, porém o que acontece é o contrário: ou somos levados ou atraídos. Vento. Amálgama invisível. O sólido mais  microscópico que há, impossível de ver, mas que nos provoca visões deslumbrantes. O cabelo da loura se enrosca no tempo, e vadia pelos meus olhos como um cisco bom, que não dói. A água brota, mas o vento a leva. Tomo um uísque com gelo. Gelo é vento. Se destrói em segundos arrastado pelo clima, e clima é vento. Vento nos condiciona a ser, ou não ser. Vento é Shakespeare, ou o contrário.

Naus em calmaria de dias esperavam o tenebroso vento que as finalmente jogaria aos recifes. Vozes de mulheres atraíam os homens para o fundo do mar - era o vento que uivava carinhos tão usados por Dorival. Lá vem o vento... uuuuuuuuuuuu! A loura me olha, e em seu olhar há o canto das sereias, e na cor de seus olhos há a mentira inventada pelo vento, a frieza congelante e nórdica. In-ventada pelo vento. O vento é um mentiroso. Nos tira e nos recoloca. Nos levanta e nos desaba. Nos engana fazendo acreditar que é respirável. Responda-me Himalaia: foi o vento que te doeu? Foi o vento que te cobriu com luz branca e  cegante? Foi o vento que te destruiu quando possuías o dobro da altura, e Deus podia fazê-lo de escada? Foi o vento que levou Deus embora? Foi ELE???

Vento que reluz o mar nas noites de luar fazendo da lua apenas um poste, onde um palhaço chora suas canções levadas pelo vento. De tanto chorar Pessoa virou mar? E Darwin? Foi o vento que o guiou em seus caminhos certeiros? O vento agora sopra uma outra música pelas frestas abertas do piano de parede do negro plácido. "The Wind Cries Mary"! E eu pergunto: Será que Mary existe? Será que alguma Mary existe? Será que ALGUMA existe neste vento que nos insiste em provocar? Em nos enganar? Será que nos engana ou apenas ri de nossos sonhos de vento? Será que Mary existiu?

Olho. A loura não está mais lá. Nem o negro de barba de nuvens está. Nem ninguém. Nem o uísque, nem o barman, nem o lugar, nem a luz dos candelabros que dançavam valsas pelo ar, nem as idiotices, nem as parcimônias, nem os fantasmas do lugar, nem a mesa de sinuca velha e puída, nem as palavras, nem os olhares, nem os bêbados, nem o amor. Hei, vento! E o amor......cadê o amor??? Vento.......




sábado, 15 de dezembro de 2012

Soneto para Cairo Trindade


                 Permitir a ousadia, é deixar a porteira destrancada. 
                                                                                           M.

Meu amigo, amigo que mal vejo
Nossos caminhos teimam o paradoxo
Aqui vai este soneto de lugarejo
À tua erudição de grande ortodoxo

Rimo com imperfeição agora
O artista e ser humano que pinto
Numa tela de admiração, de fora
O grande poeta e ser humano tinto

Há que possuir erros, a incabível poesia
Assim como em meu armário não cabe a vida
Peço...perdão pelas palavras singelas...

Pois andas por um meio-fio de lápis...
Ensinas com carinho palavras voláteis...
E dedicas a uma mulher tuas estradas amarelas



sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Caminhos

Eu passava pela minha rua numa madrugada dessas. Voltava de um lugar onde acompanhara um passarinho nas suas mazelas e risos. Minha mendiga Amélia, que habita minha rua, se encontrava no seu cantinho costumeiro, ao lado do meu prédio em copacabana. No meu caminho, seguindo a mesma direção, um outro sobrevivente das ruas, negro, sem um braço, roupa suja, desconhecido, visivelmente exausto andava em minha frente, e eu atrás apenas sacando o sujeito. 

Quando passou por Amélia ( é assim que eu a chamo...) travou-se o seguinte diálogo entre os dois:

- Tá olhando o quê? (Amélia)
- Não to olhando nada, porque você acha que estou te olhando? (mendigo desconhecido sem braço)      
- Segue seu caminho! (Amélia)
- Eu não tenho caminho...

Nesse momento minha curiosidade de historiador resolveu ficar, mas estava cansado, e acabei entrando. O diálogo restante perdeu-se no tempo. Hoje me pergunto ao escrever este texto: o quê será um caminho? 

Existirá algum caminho real? Entre sonhos e desmandos, e interjeições e preconceitos existirá caminho?  Entre espaços vazios humanos, ou não, existirá caminho? Quando uma bicicleta segue pelas ciclovias, será este um caminho? Quando alguém deixa de sair com fulano, porque beltrano lhe parece melhor, será este um caminho? E quando todos saem com todos a seu bel prazer, apenas por uma reles vontade superficial, qual será o caminho tomado? Estamos fluindo para algum lugar? Somos portanto fluidos? Será nosso caminho feito de algum líquido destinado? Será uma entidade? Às vezes uma mentira acobertando uma vaidade?

Chego a conclusão de que caminho é tempo, pois que é movimento  inerte. Mesmo parados seguimos um caminho. Porque o Todo nos molda sem que queiramos, e daqui há cinquenta anos minha pele terá seguido o caminho das rugas, queira eu ou não.

E as rusgas? As rusgas são decisões? São intempéries dos caminhos. Pedras que virarão castelos, ou pedreiras apenas. Depende de quem caminha?

E quantas pessoas em idades já esclarecidas não conseguem ver seu próprio caminho? Uma pena... Às vezes um sujeito, vagando as ruas sozinho, sem braço, pensa não ter caminho, mas tem. Pois segue uma rua, um bairro, uma estrada, um estado, um país. A falta de caminho o alimenta, a tristeza o comanda, seus pés se mexem sem qualquer piedade ou Rivotril. Outras pessoas, mais alimentadas, fisicamente mais sortudas, mais felizes, não encontram seus caminhos, perdidos em seus devaneios fúteis, ou não. De uma forma ou outra paralisados (os devaneios), em preconceitos mesquinhos e gananciosos, ingênuos e paralelos, que não se encontram nunca, que não se solucionam, que não se resolvem, e esperam o grande mito do merecimento inato. Que é uma besteira inata e fatal, e não deixa de ser um caminho, ao penhasco.

Eu, aqui no meu canto, coberto por um teto, podendo segurar meu copo, e beber minha água com as duas mãos, rezo e agradeço pois existe um plano dentro e mim. Que pode ou não dar certo, mas que me faz Homem, e que me reduz à mendigo de mim mesmo, num outro nível, porém igual. E agradeço a Deus pela oportunidade de pensar, e pensar, mas pensar de verdade! é possuir um caminho saudável.






terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Travesseiro

O calor é ardente, penetrante. Passa por tudo. Mas meu soninho vem como um trenzinho, desses que passam pelas bordas de um teto de loja de brinquedos em Londres.  Traz com ele uma chuvinha canadense que logo se transforma em nevezinha. E colado ao meu ouvidinho conversam passarinhos mágicos, que tudo dizem e nada falam, pois não há o que se entender. E meu travesseiro é como um ninho, e meu cobertor a caverna, ou um escudo mágico protetor, que me circunda, me envolve tirando qualquer chance dos "outros" me atacarem.

Minha caneta Bic está sempre por sobre a escrivaninha em posição estratégica, mirando algum canto funesto do quarto, e apontando belicosamente, como que canhão ao invasor, pronta pra atirar. Um dossel invisível cobre meus ares, e meu violão está sempre de guarda, vigiando o armário, com suas cordas encantadas que explodem  de acordo com as atividades esquisitas que, sabe-se - existem. Meu quarto é um quartel-general pronto para atender a qualquer chamado inconsciente meu. E Deus, onipresente pisca suas imensas pestanas sobre tudo, e sobre mim.

Ai, vida... Ai, trabalho... Ai, amores... Ai, reticencias de si. Em si bemol! A existência é cheia de teclas pretas, como armadilhas contra os dedos. Da vida, do trabalho, e dos amores a única coisa fatídica que resta são meus pensamentos, nada mais.

E quando eu, deitado em minha cama,  olho pro ventilador do teto, mal consigo ver as pás que movimentam o ar, que não vejo mesmo. Me refresco na brisa que sai do teto sem perceber que penso algo variável conforme a luz que teima entrar pela fresta da persiana meio empacada.

Ai, Fabíola... Que mulher era Fabíola! Mulher que dizia "Não" quando queria dizer "sim". Aeromoça... Sabia exatamente quando e onde o avião devia parar. Era um avião também. Suas mãos pousadas nos meus segredos fingiam fingir. Fugiam sem fugir. Ai, que delícia mulher que diz não sem querer dizer... Mulher pra sempre. Mas sumiu um dia a toa. Não disse "tchau". Apenas foi-se.

Assim como eu hei de ir agora recauchutar a memória, pois que começa-me a faltar tudo. Meus olhos fecham depois de uma noite de trabalho, cansando minhas mãos quentes. Parece que Sol lá fora não há de macular minha pele romena. E assim como Fabíola, há anos fez comigo, hei de fazer o mesmo com vocês, neste exato momento. Segurei sua atenção, e os soltei ao vento.







domingo, 9 de dezembro de 2012

Diálogo entre dois gays enrustidos


- Você é um viado!
-Você que é!
- Você é um viado!
-Você que é!
- Você é um viado!
-Você que é!
- Você é um viado!
-Você que é!
- Você é um viado!
-Você que é!
- Você é um viado!
-Você que é
- ..........
Se comeram.



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Vida

Posso brilhar à vontade, não faz mal
Por que meu caminho será comprido
Um centímetro será como o infinito
E assim parecerá até chegar ao final.

Sou uma gota em forma de vida!
Sou como vidro mole, quente, escorrendo
Pelas arestas do caminho vou descendo
Driblo pedrinhas, sigo a trilha.

Vou de acordo com os sulcos
Sempre descendo pelas frestas
Me moldando aos ventos.

Vou me perdendo pelos halos
Parte do meu corpo deixo nas brisas
Outra parte pelos ralos.




sexta-feira, 30 de novembro de 2012

ZZZZZZZZZzzzzzzz......

Dizem que quando estamos com insônia é porque já somos passado. Ah...! Cinco horas da manhã... não existe melhor hora para escrever-se. Sim, porque quando escrevemos, insones, estamos na realidade nos escrevendo. Ou talvez nos inscrevendo no rol das lâmpadas queimadas. A rua é deserta, mas há uma energia potencial que explodirá a qualquer momento, e eu aqui, explodirei junto, ao avesso.

Nada melhor do que pensar no passado presente. Da forma como A. um dia disse para P. : "Tenho saudades do futuro que eu teria com vc."

O pior de tudo é que a saudade não é ausência... Saudade: palavra de beleza etérea. Sinto saudade do chocolate que comi há duas horas, assim como sinto saudades de Los Angeles, onde morei parte tenra da minha vida. Como odiava Los Angeles! Amava-a também. Mas odiava acima de tudo, tudo que me prendia lá. E hoje, sob a névoa tchechoviana do passado, eu a amo mais que tudo.

Engraçado como essa névoa dizem pertencer ao passado. Qual o quê! Essa névoa é exatamente o futuro. Pois a sentimos agora, neste exato momento, e nunca d'antes. Cruzamos o Cabo das Tormentas, e logo esquecemos, romantizando o tempo, o renomeamos de algo melhor, nostálgico.

A vida é feita de momentos que não existem. Pois apenas o presente existe, e este passou agora que terminei a frase. E assim passará.

Seja lá como for, meu dia foi cheio de amor. Realizei as prendas mais primárias desde o tempo dos primeiros escritos. E aqui continuo a realizar. Não sou um insone constante. É raro essas coisas me darem trela. Geralmente durmo com os anjos. Talvez hoje eu esteja acordado por ser um anjo, pra que outrem durma, em alguma casa desconhecida de mim. Talvez exista uma troca de tarefas que dá o exato sentido do que seria uma reciclagem psicológica, mental, do Todo.

Esperem....

......................................... há um par de meigos braços que parece me carregar, e uma música parecida com a Goodnight dos Beatles a invadir meu ser, e um beijo estala levemente os meus olhinhos, e meus pés parecem ser carregados por nuvens. Acho que vou dormir....

(Now it's time to say goodbye/ Goodnight, sleep tight....)
                     
ZZZZZZZZZZZZZzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.....




quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Estrela

Sou de carne
Não sou de vento
Embora vento dentro de mim

Sou nascente do Sol

Longínquo das estrelas
Embora estrela dentro de mim

Estrela de mim

Sou visto de longe
E visto o que me der na telha







domingo, 25 de novembro de 2012

Veludo

Há lindos vales onde vivo
Cobertos de orvalho nas copas das árvores
Ipês amarelos como doces cabelos escorregadios
Vivo onde vivo, e vivo

Como está você?
Meu pano de linho florido...
Visto-te em minhas mãos
E visto-me...

Um homem de verdade apenas veste o que sente



quinta-feira, 22 de novembro de 2012

PAZ

A paz não é menina, é rapaz. É complexa como tudo que acaba com a letra "z". Não é palíndromo, mas sim anagrama - "zap". Onomatopeia do mais rápido. Aquele que enfia a faca antes ganha a paz. A paz é o outro lado da moeda. Ela depende da guerra. Mas a guerra não depende da paz. Basta haver paz para que haja guerra. A guerra se basta em si só. Não é preciso de paz para que haja guerra. A guerra é uma decisão conveniente a alguns. A paz é a utopia a ser alcançada por todos. 

A paz é vida. A guerra é morte. Paradoxo engraçado - Luta-se mais pela vida durante uma guerra, do que durante uma paz. A paz é hipócrita. Ela nos faz apertar a mão de desconhecidos, imaginando que eles tenham passado a mão no saco um minuto antes. A guerra é pra quem tem colhões e não pede apertos de mãos, conversas tolas, obrigações sociais, desculpas esfarrapadas. É coisa de Homem.

Sinto, que o ser humano se encontra melhor na guerra. A guerra gera lucro. A paz gera guerra: é estopim. A guerra é um jogo de futebol mortal. A paz é jogo de nada. A diplomacia é a paz disfarçada. Resulta em espionagem, em ação, em interesse humano, em James Bond. 

O ser humano se descarrega na guerra. Nunca na paz. Não existe paz num alter levantado numa academia. Não existe paz no sexo. Não existe paz num jogo de futebol amistoso. O Homem é um ser competitivo. Já lutou por Sal, já lutou por comida, e hoje luta por costume. Nossa malha intercambial é feita de pólvora, salitre, e carvão.

A paz é branca. É união de cores em movimento. Mas não é dinâmica. Não gera lucro, não gera ligações. As verdadeiras ligações são geradas pela ganância, pela competição, pelo melhor cargo, pelo melhor lugar no restaurante mais caro, o duelo pela mulher mais bela. O morto no chão, caído por causa da guerra, a ele diz-se: R I P.

Bem como não existe paz no amor. O amor é a guerra maior. Esses mísseis que caem em Gaza e em Tel-Aviv não significam um dízimo do que é o amor. Amor é guerra. No amor a luta é eterna. O amor mistura todos os nossos sentimentos, pacíficos e belicosos. O amor é um mar revolto tentando constantemente provar  a capacidade do navio de não afundar. A sobrevivência é beligerante. Na verdade Judeus e Palestinos se amam tanto que precisam se matar.

Se defender? Isso é o de menos. É claro que há que se defender. Qual povo vai abrir as pernas como uma prostituta e simplesmente aceitar ser dilacerada num estupro sem fim? 

Quando vejo as pessoas a discutir as atitudes tomadas durante a guerra ou a paz, penso comigo mesmo: será isso o importante? Isso resta apenas para pagar contas. Alimentar um mundo sedento de dinheiro. Não é o sangue que move as pessoas, não é  a religião, nem a política - é o dinheiro. Aos que pensam em política, em ideologia, em religiões...meus pêsames poéticos. A ignorância pode ou não ser burra. Uma é Guerra, a  outra é Paz.

Mas esse texto foi pensado para ser sobre a Paz. Infelizmente não deu para divagar o tema sem a Guerra.. No dia em que eu conseguir falar de paz sem ter que abordar a cabeça idiota do ser humano, este mundo terá mudado. Não será o mesmo. E eu serei mais feliz. Em todos os campos, em todos os sentidos, em todas as curvas da existência, todas as pedras do caminho, dos amores, e dos jogos da alma. (Mind Games)

A Paz é um Sonho. Que minha avó fazia quando eu era criança, nos meus tenros e ingênuos tempos nada pacíficos. Porém que me remetem a primeira nostalgia, pois que passada a dor, resta apenas a memória. E esse Sonho era feito de uma massa deliciosa, salpicada de açúcar, e dentro dela vivia um recheio de marmelada romena, como minha avó. Mas o mais gostoso era a casca, a massa, a parte menos doce de tudo, e no fim dela restava apenas o detalhe do doce.

O Homem tem que comer a sua massa para chegar um dia ao seu doce detalhe. Que é um sabor que se adquire (como dizem os ingleses: "a taste to be aquired".)

Doce Paz. Ainda não te alcançamos. Não sabemos o que é. Quem sabe um dia...




terça-feira, 20 de novembro de 2012

Cabelos de Lava

Passo a vida jogando meus carvões de vento em você
Colhidos onda a nascente da minha alma reverbera
Levados por cavalos alados, de pele de carrara de peito de andorinhas
Mágica é o meu labor, de ir e vir, de vir e ir, de nunca chegar.

És fogo, és cabelo que escorre como lava, mas sua pele...
Sua pele é feita de nuvens e sonhos e claras doces de ovos e creme
Sabe Deus, um dia hei de preencher com meus carvões doces
A sua fogueira feita de maquiagem.



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pra uma manequim

Roda modelo, manequim.
Roda sua dança calada
na calada da boca
da calça,
do vestido suado transparente,
que não transparece mas rescende.
Dobra a passarela
como se dobra a vida.
Como se a  vida fosse de vidro,
corta-te no perfume.
E a sua tampa
talvez encontre outra igual.
Mas sem tropeço
é difícil de viver,
mesmo com um "passe",
quando não se sabe
o que se ama.

Vida perdida
nas mentes vazias,
nos preceitos, preconceitos,
nos álbuns indecisos,
nos longos cabelos,
na unha de tão lindo vermelho.
Mira-se sua beleza,
pétrea e contida,
sedosa e sadia,
presa numa parede,
ou em capa de revista.

Pena...
Pena que cai sem nexo
na água parada e fria.
Vejo tua imagem
em meu reflexo...
Pena...
Seus olhos não perceberem
quais outros olhos
são teus espelhos.




segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Dez mil anos

O espaço. O imenso e negro mar enevoado, remoto, instado em nossas mentes, cantado em nossas preces, revolvido em nossas poesias... que palavra por fim o revelará? Somos e sempre fomos e nunca seremos mais uma poeira de estrelas, algum dia, quando o sinal dos tempos passar desta para outra. Seremos, ou melhor, voltaremos a ser História sem linguagem. A fase germinal contada jamais.

Ironicamente, uma sonda foi arremessada ao espaço extremo há uns dez mil anos atrás. E este escritor vos recita em frias palavras antigas de algum lugar já não existente, sabe-se lá como. Mas tudo é possível quando se imagina o impossível. Esta sonda projetada ao infinito desconhecido seguiu incólume, atirada ao nada fantasmagórico do desconhecido penhasco espacial. 

Com o intuito de desvendar, de descobrir, novas, ou até então contemporâneas civilizações, ou mesmo células inexperientes, ou amalgamas de qualquer massa possível inimaginável, esta sonda foi lançada num momento de clímax de uma civilização de homens. Dotados de uma inteligência capciosa, capaz de destruí-los ou reconstruí-los com arte e guerra, sementes ou cinzas.

Lançada dez mil anos atrás, seguiu seu rumo apesar das pequenas colisões pueris estelares, e do pó proveniente da matéria negra do universo. Chegou ao seu fim, ao seu destino desconhecido, tanto tempo após a destruição de sua própria civilização. Enviou fotos, rádios, frequências cardíacas de máquina, estática, à sua civilização já terminada. Porém achou em seu porto seguro algo que a definiria dez mil anos após: o Amor.

Imaginem uma sonda lançada neste momento, e que em dez mil anos atingisse o seu objetivo por acaso, perdida em cálculos matemáticos de uma era já finda. E que neste determinado momento enviasse, sem saber, ingenuamente, as informações de sua descoberta ao seu povo exatamente exterminado há exatamente dez mil anos, e por falta de amor.

Pois assim é o meu amor. Um acaso. Guardado por um poeta dentro de um armário por milênios atrás. Existindo em sono profundo; acordado por uma sonda casual; num momento em que de nada poderia se valer. 

Doce acaso. Não importa como chega. Não importa a cor de seus cabelos. Nem o seu passado, nem o seu futuro. Pois como sal de nuvens posso apenas me queixar da atmosfera e nada mais. O tempo. Este é um mentiroso. Nos engana profundamente. Quanto mais amamos, menos vivemos - quanto mais vivemos menos amamos. 

E eu, que amo como dez mil sóis. Como dez mil luzes. Como dez mil anos atrás. Hoje, e nada mais.




terça-feira, 6 de novembro de 2012

Traumas

Traumas, traumas, traumas, traumas...
São filhotes ainda presos ao ninho
Porque não transformá-los logo em passarinhos?




segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Flor Amarela

As montanhas de degelo da alma pegaram fogo
Os girassóis das planícies pararam de girar
As escandinavias não aterrísam mais em solo de meia-calça
Os elevadores e os caminhos fecharam as portas
As chuvas de verão passaram em preto
Os vinhos desarrolharam virando poças
E o tempo me pergunta todos as noites
Para onde foi o amor das flores amarelas?




quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Insônia

Eu que nunca sofro de insônia hoje vou senti-la. Insônia. O que é a insônia? É uma conspiração dos órgãos vitais contra você? É uma rolha que se recusa a explodir de uma garrafa? É a tentativa de aportar, ou é a ausência de porto? Eu não sofro de insônia, a não ser quando estou com insônia. Insônia: Sônia ao avesso. Com certeza deve ser culpa dela; de alguma Sônia existente em alguma paragem por aí, desconhecida. Metáfora sublime e dolorosa da mulher quando ela não existe ao teu lado, porém dentro de ti.

Será a insônia a vaga vela holandesa numa calmaria de meses? Será o café borbulhando em pensamento apenas? Será uma vontade louca de deglutir a média de alguma padaria de esquina? A Insônia é o maior dos corrosivos, a droga mais vital, a tentativa de se espalhar uma argamassa já endurecida. A doença mais célebre de todos os tempos. Resquícios da glaciação dos peixes? A velocidade das milenares tartarugas em busca de algo? A razão da arte, a comida dos poetas, o ócio das abelhas, a carne mofada, os neurônios em greve, o perdão e a zanga de um pai revolvendo sua cabeça como minas aquáticas? É o que matou Balzac? 

"A insônia fuma um cigarro atrás do outro e um carro rasteja na avenida como um corvo..." A insônia é um livro interminável. É o Senhor dos Anéis adulterando seu sangue verde. A insônia é uma música sem fim, chata, repetitiva, é o tambor dos bosques repetitivos, a calmaria do passarinhos do Kansas ante um prenúncio de tornado. É a reza dos compadres, é o eco de castelos templários na sua repetição eterna de paredes quicando gemidos de assassinatos perdidos no tempo. A insônia é o tempo que não há. É a síndrome dos nossos dias, é o costume aos remédios soníferos, é a indústria farmacêutica ardendo sua orelha, é o pão quentinho que berra seu nome, é a cachaça ingerida, porém não bebida. É a falta do uísque, é uma bossa-nova. É um samba do Carlinhos Lyra, são os olhos da Maysa, a boca sem dentes do mendigo da esquina, as baratas do carnaval, o lixo que a Conlurb não recolhe mais. É o vento da praia vazia. É a espera do grande terremoto que acontecerá no dia seguinte quando você terá que se engomar e ir para o escritório apesar dela. É a angústia de existir em vão?

A insônia é apesar. Apesar de tudo. É o juiz apitando um penalty, apesar do erro. A insônia é o pesar. O pulsar da cabeça medonha dos poetas. A insônia são as pedras ainda não acumuladas por Fernando Pessoa. A insônia é o próprio. Sou eu, é você, é um mate preto, com catuaba num boteco da lapa, sem a menor chance de se dar bem com alguma mulher, enquanto travestis riem de você. A insônia é estar no Serasa?

A insônia é o arlequim rindo das suas lágrimas enquanto a puta da colombina se masturba sozinha num canto do salão? É o entrar e sair de uma academia de ginástica cheia de pseudo-gente. É um empate do flamengo com o fluminense, é a espera do gol que não vem numa final de copa do mundo. A insônia é a própria copa do mundo de hoje em dia. É um torneio de barco a vela, é um beijo chupado de tia na orelha, causando uma sucção de supernova. 

As vezes me parece o universo uma terrível insônia. Pois a insônia é a incerteza. É a explosão que pode demorar bilhões de anos para te atingir - graças a Deus. Um sábio um dia me disse: "A Insônia é a falta de amor, a insônia é o mundo vazio dos que sentem  solidão."



sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Quem dera...

Dormir sem dormir, acordar sem acordar
É como dividir sua costelas de vento
É como cavalgar num cavalo sem trotar
Ser espuma e isopor, ser andróide e unguento

Quem me dera cavalgar por um círculo reto
Por esferas espanholas, elípsses amatemáticas
Num destino por mim traçado com conserto
Possuir em meus dedos as borrachas fantásticas
Ter por caminho linhas paralelas que se encontrassem no infinito



terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cuidado com o que voa!

Um homem atravessava uma rua principal do bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Caminhava sozinho e pensativo, circundando os carros e ônibus parados à espera do sinal verde do trânsito. Ao chegar do outro lado, fora da faixa de pedestres, como de costume fazia, se embrenhou por entre carros estacionados irregularmente na diagonal, ao longo do meio fio, e seguiu.

Havia acabado de almoçar num pequeno restaurante do centro, onde costumava ir sempre. Filé de frango com batata palha, ervilhas e coca-cola. E comeu, o tempo todo, se perguntando como podia o filé de frango ser tão, mas tão grande! e polpudo quanto aquele. Não era normal. Era um puta filé de frango maravilhoso, por apenas vinte reais! Parecia vindo de uma ave jurássica - brincava com seus pensamentos. Sua barriga cheia sentia graça.

Foi então que seus olhos bateram bem diretamente numa gata maravilhosa. Alta, morena clara, corpo curvilíneo, cinturinha, bumbum irreparavelmente empinado, vestindo uma mini saia e uma blusa branca indefinivelmente detentora de dois seios dignos de playboy, além de um rosto lindo, meio carioca, meio sei-lá-da-onde, lábios carnudos e olhar tenso. Ao perceber esta última qualidade o homem pensou: "Tem coisa aí!".

Passou por ela rapidamente, não porque quisesse, mas sim por que seus passos eram apressados, mas durante a volta que seu pescoço fez, pensou melhor e estagnou no tempo e espaço. Notou que a mulher tentava uma ligação no celular, mas não conseguia, e embora parada no mesmo lugar, estava realmente possuída por aquela tensão comum às mulheres que esperam algo mais importante que tamancos, e embora usasse um, possuía algo de pouco comum, algo que alguns chamariam de "manejo Av. Atlântica". 

O homem demorou uns poucos minutos a observar a bela, e decidiu tentar a sorte. Disse:

- Me dá licença... querida, mas eu estava lhe observando, e pensei que uma moça tão bonita só pode estar parada neste pedaço da rua por um bom motivo... ou um mau motivo. Qual seria o seu?

A moça sorriu um sorriso discreto.

- Não te interessa. (Isso responde tudo, não é?)

Então ele perguntou o que não queria calar:

- Hummmmmm.....?

- Um que você não pode pagar, pelo jeito. - Riu-se.

Bom, é verdade que o homem não estava preparado para uma situação destas. Vinha suado, cansado do trabalho, o Sol escaldante na cara, o terno amarrotado do metrô...essas coisas que atrapalham ou ajudam.

- Como você sabe que não sou "mais mau" que o seu motivo? Que aliás, nem está vindo, né?

- Bom... não te conheço, e o meu motivo virá. - disse com firmeza.

- Ok. Vamos fazer assim, se em dez minutos ele não aparecer você troca de motivo mas conserva a maldade, que tal?

A moça sorriu aquele sorriso discreto. 

Três horas depois já haviam feito de tudo num motel da Barra da Tijuca. Ele olhou para ela, ela pra ele, e notaram que ali havia o Amor.

Quinze anos se passaram. O homem, sentado na poltrona que um dia havia sido branca, traçava um balde de pipoca, e pensava consigo mesmo, rindo-se, que as pipocas eram imensas. Deviam ter usado algum agrotóxico suculento naquele milho, não era possível fazerem pipocas tão, mas tão carnudas! Do banheiro saia a mulher, com quem descobrira o Amor, mas que agora não passava de pipoca sem sal... e murcha, ainda por cima!

Quando de repente, durante o intervalo do mengão, assistiu uma chamada do Jornal Nacional que dizia assim:

- Preso no centro do Rio de Janeiro, dono de restaurante que, há quinze anos,  oferecia aos clientes urubú como se fosse frango.



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Arroz

Neste momento me encontro cozinhando arroz. Arroz é fácil de fazer. Bota água, sal, alho picado e quinze minutos de microondas. Pronto! Assim a China come!

Não existe desencontros na hora de fazer um simples arroz branco. Comia-se arroz de forma melhor nos anos 60. Pelo menos o Vinícius devia, já que ele acreditava numa vida de arte do encontro. E, no fundo, talvez ele remendasse o seu dito popular hoje em dia. Pois que a vida tá mais desencontrada do que uma prato que azeda fácil. Não o arroz, esse nunca azeda antes de pronto.

Hoje o mundo é um desencontro só. Pessoas são aquilo que se fizeram delas. Infelizmente, uma regra da natureza, meio injusta a meu ver, visto que vai totalmente contra a teoria da evolução, ou não. Talvez eu esteja errado. Um ser precisa aprender a ser rápido para ser mais rápido ainda. (?) E realmente um ser sem referências é um ser sozinho. No fim das contas isso faz sentido, mas evolutivamente não ajuda em nada a partícula humana do infinito. Fode nossa vitória, seja lá qual for, existencial. Sarte me odiaria hoje.

Um gato nascido na rua, sem carinho, amor ou comida, precisa aprender a se virar, o amor dele passa a ser de segundo plano. Mas não é o amor uma saída para se conseguir uma alimentação saudável? Afinal, dois braços dados, duas mãos entrelaçadas, duas almas em sincronia, justas e verdadeiras são como uma máquina de sobrevivência. 

E o que é o amor, nada mais do que uma forma de união visando sempre a sobrevivência da espécie humana, que é fundamentalmente social. Não somos mosquitos. Vivemos em cidades onde nossa psiqué influi nos nossos papéis, capacidades, e retorno financeiro, que é o que afial nos alimenta a barriga e a alma. 

Vejo hoje um mundo que se permite de forma avessa. Um mundo livre e preso na sua fragilidade emocional, herdada por aqueles que não sabiam se doar, ou que não tiveram essa chance de se entregar, por males do destino, ou por falta de vontade, o motivo no fim, é desimportante.

Espero um dia ter quatro mãos, duas cabeças, duas bocas, dois sexos, e um amor. Enquanto isso, e para sempre, vou continuar fazendo meu arrozinho. Que aliás, não é tão fácil quanto se imagina, não! Pois um pouco de água a mais, uma mexida na hora errada e ele empapa e vira massaroca. Assim como a vida na panela.



sábado, 13 de outubro de 2012

Mariposa

Um bar sujo de rock and roll de uma rua de Arkansas. Ele chega com a menina. Os dois muito bem vestidos no meio da corja bêbada e casual. Ela a coisa mais linda do mundo, ele a coisa mais corajosa e fraca do planeta. Não conseguem fazer com que dezenas de olhares os persiga; que bom para eles.

- Pode me dar um uísque com gelo, por favor?
- Amore, pede pra caprichar?
- Pode dar aquele capricho, amigo?
- .....
- Amigão, veio menos do que o primeiro que pedimos... Pode dar uma choradinha maior, por favor?
- Não dá. É só você pedir outro depois, que eu me empenho mais.
- Olha, não é pra mim, é pra menina aqui.
- Aí freguês,  uísque é coisa pra homem. Você tá com uma GATA e vai beber o quê, cumpadi?
- .......................
- Eu bebo ela.

Saíram pelas ruas de Hollywood. Ele segurando a onda dela pelos braços. Ela bêbada que nem um canudo de papel, daqueles antigos, que não serviam para nada. E ela não servia mesmo pra nada, ele sabia. Mas bebia assim mesmo. Foram cruzar a rua movimentada de sábado à noite. Ela o puxou pelo braço:

- Pera aí gata, ainda não dá....!
- .....

Foram atropelados por um caminhão de bebidas, que não deu confiança, ou nem viu.

- Amor quero fazer sacanagem só com você.
- Eu sei, mas...onde estamos?
- O que importa? Me fode agora em algum canto...?
- Parece um show do Greatful Dead, acho que conheço essa música....
- Amor foda-se, me bebe, vai, me bebe. Bebe o seu licorzinho de morango, vai?
- Pera aí amor... acho que to vendo uma luz.... ( E foi em frente.)

A menina já estava fora do alcance. Talvez nem existisse mais. Sabe-se lá pra que dimensão teria ido. Mas isso não passava pela sua cabeça enorme. Cada vez maior em função da conjunção de poeira cósmica e raios gama vindos do além, ele era o planeta Terra, e sua órbita sempre faceava o imenso sol, e sua luz fulgurante e morosamente escandalosa.

Viveu rodando assim numa infinidade, até que enfim percebeu que não era um planeta. Era apenas uma mariposa em volta da luz de um lampião preso a um poste localizado no meio de um campo de algodão, ou milho, não dava pra saber bem, e que era noite e que um corvo ocupava o cume deste poste e o cercava com olhos de cobiça à sua órbita solar.

- Você que ter algo comigo?
- Não sei...você é meio grande pra mim... que "tipo" de algo.
- Algo saboroso, só nosso, onde você fará parte de mim e do que eu sou, com certeza....
- Ummmm, não sei se quero fazer parte de um corvo gigante.
- Não sou gigante, amigo, sou apenas bem maior que você, mas a guerra, esta sim é gigante.
- De que guerra você está falando, corvo?
- Da guerra que existe dentro de nós, e que sem ela é impossível viver. É a razão do mundo, da vida, e a existência depende dela, e por isso nos encontramos aqui, por acaso, no fogo cruzado. Sem essa guerra não existiria capitalismo, nem "outroísmo", e talvez eu tenha me apaixonado por você à primeira vista, vem cá...!
- Ei! Tira esse bico daí, seu carnívoro!!!!
- *(&¨(*%&¨%%&¨$$%*
- ......

Enfim a mariposa conseguiu se refugiar dentro do farol que continha a lâmpada e sua luz era alimentada de forma arcaica, óleo de baleia, algo assim.

- Graças ao bom Deus, me livrei de mais outra morte. E essa luz, Luz divina, é inacreditável, estou no êxtase, no paraíso das mariposas! Iluminado pela chama do Universo.
- Mas, putz grila, que cheiro horrível aqui dentro. Não consigo nem respirar. E que calor do caralho! E quantos restos secos de borboletas e mariposas e outros seres como eu! É pra ser assim mesmo? Não vou aguentar um minuto aqui dentro. 

E iniciou uma tentativa que parecia querer trespassar a qualquer custo o vidro que o rodeava. Já não aguentava mais, e a morte assim lhe chegaria, quando de repente o vidro explodiu. Zonzo, se viu livre daquilo e no meio do maior fogo cruzado que jamais vira.

Bombas explodiam e arremessavam pedaços de terra e grama aos seus ares, fumaça, muita fumaça, fogo, e homens correndo. Fardados de cinza, corriam e depois de um tempo gritavam: "Debandar!!! Debandar!!!".
Como mariposa que era não percebeu que se encontrava no meio de uma batalha entre os Yanquees e os Confederados, durante a guerra civil americana. Porém pelo seu tamanho e fragilidade, as bombas passavam sem o atingir, os cavalos em carreira, não o faziam mal, e por fim quando a carnificina acabou chegou-se a um dos cadáveres estendidos ao solo e leu em seu uniforme, e viu o símbolo confederado. Mas como seu passado fora humano, não pode deixar de perceber um relógio digital no pulso do corpo, nem a data registrada na foto que caía do bolso do soldado derramado. E nessa foto continha a data de 2016 e a foto de uma linda mulher. E pensou: 

- Puta que pariu! Mas essa guerra não foi em 1860 e poucos, por aí? E essa mulher? Parece a Fernanda, minha ex que não sabia atravessar a rua! 

E seu pensamento foi por um momento este:

- Puta, vadia, me traiu com um soldado bucólico do Arkansas!!!!

Quando viu melhor o soldado nada mais era do que o barman que lhes roubou no uísque.

- Bom... morreu... 
 - coitado...   
- Antes ele do que eu!








segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Linha

Escrevo fios e percorro linhas
Para onde eu irei
E me equilibrarei todos os dias
Pois nada é tecido
Nessa trama a que chamam vida
Pois se o que eu escrevo
É um passo decidido
Um após o outro
Vejo abaixo
Apenas o vácuo ferido
De todas as coisas feridas

A ele me entrego
Para que cuide de minhas saudades
E de tudo que sinto
Tal como, em tu,  é sentido




segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Quando.

Escrever é muito fácil justamente porque não é o que eu quero.


Quando meus olhos não conseguem ver, e quando minha boca não consegue falar, e minhas mãos não conseguem pegar, graças a Deus, eu tenho música. Quando meus pés não conseguem andar, e meu corpo não consegue alcançar, graças a Deus eu tenho música. Quando minha trégua sente falta, e minha régua, pauta, e minha inspiração mina, e minha lava escorre lágrimas, e meus dedos não atingem, e meus olhares são perdidos, agradeço a Deus, eu tenho música.

Quando me roubam os bens materiais, me roubam a minha alma, batem na minha cara, batem no meu ego, no meu ser, no dinossauro que fui um dia, na molécula de meu ventre, no versículo de meu miocárdio, nas minhas pernas que não andam, agradeço a Deus, tenho música.

Quando apontam meus barcos de lugar nenhum, quando me soltam bombas na cabeça, e azedume no meu sangue, e saltam minhas papilas, e cortam minha língua, e machucam meus ouvidos, e ferem meus aviões, e espetam azóis em minha língua, e o frio me toma, o calor me enlouquece, o amor me confunde, me falta e me apaga, agradeço a Deus, eu tenho música.

Quando minha estrada é de nuvens, e meu caminho imundo, e meu chão inexistente, e minhas abotoaduras me sufocam o pescoço, e eu pareço um palhaço ao vento, de braços abertos, qual espantalho, e corvos vêm roubar meu milho, e quero acordar e não consigo, e me retém a fronte amiga, e o oxigênio me oprime, e olhos me fazem tremer o resto que há de mim na Terra, e me faz refém das lidas da noite e não existe dia, e meu freio de mão empaca, meu ônibus parece cair da ribanceira, e sou nada mais que um boneco de neve que não quer degelar, agradeço a Deus, eu tenho música.

Quando tudo o que eu quero é ser, e estar do outro lado, atingir meu sonho, e minha ansiedade é inexpugnável, e minha realidade triste, e meus conflitos feitos de vidro, e meu castigo é não pertencer, apesar de tudo isso, minha lágrima desce fria, e sou puro álcool etílico na garganta vadia, luto pelo meu dia, e agradeço a Deus, eu tenho música.

Quando minha tristeza é tanta, que um sorriso me satisfaz, Deus é música.






sábado, 29 de setembro de 2012

Sonhos de Violinos

Flecha de mão - sei que vou morrer amando sem amor. Sempre que tenho um sono de bêbedo me dá vontade de escrever. Psicologicamente poderia explicar este fenômeno como uma mão que agarra a flecha da hora. Ou seja: não quero dormir para não esquecer. Ou: não quero dormir para não sonhar. 

O destino de meus dedos é se machucar. Com cordas de violão, ou com açúcar em brasa. Mas me dá um orgulho tão grande machucar minhas mãos dessa maneira. As cordas do meu violão são dignas de estrelas, e os açúcares do meu tacho são dignos de maresia. Árvores gigantes protegerão meu céu e meu teto. Eu sei bem pra onde eu vou!

Adoro cozinhar. Cozinhar é igual a fazer música. Reúne-se os ingredientes, e na hora em que se acende o fogo debaixo da panela é quando começa a corrida pelo universo. Cozinhar bem é saber fazer cair na panela os ingredientes - cada um em seu devido tempo. Um erro no círculo desse tempo e vai tudo abaixo. Jogar os temperos é ter o dom da sofisticação, do sabor. Cozinhar e fazer música dependem mais do tempo que o próprio espaço-universo. E acho até que o Tempo só existe dentro da arte.

Hoje passou pela minha janela o grande urubu dourado. O único que se perfuma de jasmim, e que possui pétalas em vez de penas. E nunca defeca pois que come jamais. Expira baunilha doce, e de seu bico sai a saliva que deglute o mundo. Nele eu sentei. Com pernas cruzadas e confiantes em seu molejo. Pássaro azul rosqueado de pérolas, e azeitado por Deus, levou-me pelos campos de nuvens e se chamou Vida e Sonho.

Flecha de mão - plumas que me lavam as bochechas da cara. Sinto tanta falta do que não tive, que às vezes acho até que tive. Suas mãos limpas de anéis. Como feixes de algum material ainda não descoberto na natureza, tão suave e repousante que me convida a dormir à toa. Nunca vi tanta fartura de toque e descoberta, que com certeza nada ainda foi descoberto. Você existe, porém, come pãozinho e toma chocolate quente no meu hotel de luxo cheio de neurônios. E há de jantar comigo um dia  em grande estilo numa roda gigante em algum lago lindo do planeta. Prometo-te em meus sonhos.



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Carta de Yom Kippur

É noite de Yom Kippur. Durante as próximas vinte e quatro horas Deus nos julgará dignos de continuar, ou não. E eu que ia escrever sobre qualquer outro assunto, me debruço sobre a escuridão e apenas escrevo meu perdão numa carta.



Peço primeiramente perdão por não ter entendido o que sou, desde o começo, e por isso ter agido em defesa de minha zanga. Peço perdão pelo meu mau gênio, mesmo quando necessário, se é que alguma vez isso foi necessário, eu não sei. Peço perdão por não saber, e por não ter sabido, e por ainda tentar entender. 

Assumo a responsabilidade pela minha vida, mesmo tendo pisado em pedras que perfuraram meus pés durante minha caminhada. Aos outros, culpados eventualmente de ter me influenciado de forma errada, por bem ou por mal, com olhos de cisne, ou de lagarto, ou de andorinha, cabe a eles os seus pedidos de perdão. O meu pertence apenas a mim.

Peço perdão por não ter me defendido quando me ofenderam. E mesmo sabendo que eu não conseguia me defender, por imensos motivos, eu peço perdão.

Peço perdão por dirigir que nem um louco, por não ter pago algumas contas, por ter fingido amor algumas vezes, há muito tempo atrás. Peço perdão por ter me auto-flagelado psicologicamente por um sonho fácil de ser atingido. Peço perdão por ter acreditado que meus sonhos eram impossíveis, mesmo que por bocas bem intencionadas. Bons auspícios esperam aqueles que sonham de pé. Peço perdão por ter me deitado por tantos anos, mesmo que forçado por mil mãos. Peço perdão pelos atos, os quais sou responsável, e pelos que me tornaram responsável. Agradeço à experiência que me ensinaram os que me odiaram, e os que me apontaram dedos e não eram meus pais. Peço perdão por aqueles que ainda não sabem o mal que me fizeram, e peço perdão por não ter conseguido dizer-lhes na hora devida.

Peço perdão por ter sido injusto com meus pais. Peço perdão por ter sido volúvel e negligente com algumas pessoas que formavam o meu próprio coração, e que hoje não se encontram mais aqui. Peço perdão também por elas, pois não sabiam... e existe um momento em que nada se sabe, e a vida dói tanto, que é impossível pedir ajuda.

Peço perdão por não ter compreendido essas pessoas. Peço perdão por minha extrema ignorância. Por ter voado em furacões, por ter escalado montanhas de anti-matéria, por ter me amordaçado a mim mesmo nos palcos da vida, por ter alguma vez tido medo de cantar o que sou. Peço perdão por juramentos que não consegui cumprir, e por ter magoado pessoas que só merecem respeito e carinho.

Tenho a consciência de que mesmo sendo julgado em jejum, muito do mal que se faz se paga aqui, pois o mundo dá voltas, para mim e para todos, e sei que hoje pago por amores e dores, por reações e reagentes, por fazer música e guerra. Hoje penso apenas em fazer paz e música e doces. E espero que as voltas da vida sejam suaves em mim.

Ouvi dizer que uma grande atriz uma vez disse que não devem pedir perdão sem motivo, pois a pior coisa é o perdão à toa, humilde em demasia. Concordo. Por isso acho que meu maior mal, e talvez único, tenha sido não dar importância ao amor que me foi dado pela minha família. E por considerar este o maior mal de todos, e o único realmente legítimo em minha história, peço perdão mil vezes.

E por isso, agradeço. Agradeço pelas oportunidades a mim concedidas por Deus, pequenas ou grandes, não importa.  E assim sendo, peço que escreva meu nome, assim como o da minha família, no livro da vida. E que este Ano Novo seja repleto de paz para todos que pensam o bem, meus amigos, meus universos, meus inversos, e meus fraternos. Judeus ou não judeus. Somos todos iguais.

Desejo a todos um novo dia.



sábado, 22 de setembro de 2012

Divagações sobre uma Bolinha

O que é uma bolinha? Não sei dizer. É algo inconstante. É algo que dificilmente fica parada. Nada depende tanto do solo quanto uma bolinha. É o próprio solo, em certas situações. O Sol é uma bolinha no universo. Os buracos negros não se sabe ainda, mas provavelmente são bolinhas de gravidade. A gravidade é uma bola, pois é curva e preenche de bolas o universo, e isso nos atrai.

Símbolo máximo a perfeição geométrica, a bolinha possui ângulos infinitos. Portanto pode ser um universo em sí mesmo.Não há nada tão finito quanto infinito numa forma circular. A bola não precisa de ninguém para rolar. Mas precisa do movimento. Um instrumento dotado de uma bolha mede superfícies planas onde podemos ficar em pé sem muito esforço. O Pilates faz com que fiquemos em cima de bolas que nos torturam. 

Não existiria o futebol sem uma bola. Não existiriam veículos sem bolas. Não existiria a cabeça humana sem  a impossível bola mágica intangível. Os psiquiatras morreriam de fome. As olimpíadas não existiriam. As guerras também. O que prova que a bola tem efeito duplo. Malefícios e benefícios. É bom ganhar uma bolada na mega-sena, porém uma bolada no rosto pode te matar. 

Já tropeçou numa bola? Já achou dinheiro na rua, no chão? Nosso pensamento, na maioria das vezes tende a ser circular. E podemos passar uma vida inteira sem alinhá-lo. Um filme do Woody Allen não passa de uma bola. Do Almodovar também. O Dark Side of The Moon é uma bola, e fala dela. O que seria dos poetas sem a Lua, bola magistral, que nos salva a noite. O que seria das caravelas sem as bolinhas do céu para as guiar contra os rochedos e recifes? 

Quando alguém morre desconfio que deva virar uma bola de qualquer coisa. Quando você taca azeite na panela quente ele forma uma bola. Quando a maizena encaroça vira bola. Nosso estômago embrulha e forma bolas que doem até sair em peitos que circulam o ambiente.

Átomos são bolas, Elétrons são bolas. O acelerador de partículas é circular. O universo vai e vem, e não sei como os cientistas ainda não comprovaram que ele nada mais é que uma bola que gira e se repete, assim como a espiral de Aristóteles, que devia ter uma barriga de bola, e que acertou em cheio. Pois eu posso continuar escrevendo sobre bolinhas a vida toda, e vou sempre voltar ao mesmo tema, ao mesmo início. Porque nossa história é nada mais que uma bola. Assim como o nosso coração é uma bola complicada por demais, e a música que eu faço é sempre inspirada em formatos circulares. E a Terra...Ah! A Terra...Bola intangível, por onde sonhamos dia a dia, nosso padrão circular.

Quando menino eu lia a revistinha do Bolinha, e adorava. Meu pai jogava bolinhas de gude, e eu jogava botão. Quando quero mandar alguém a merda eu faço o símbolo da bola com a mão. Nao deve haver emoção mais do que marcar um gol no maracanã, e sem a bola isso não é possível. Um cumprimeto de mão, conceitualmente é uma bola. Um beijo na boca é uma bola. Um bolo é uma bola. Um bombom é uma bola. Um estádio é uma bola. O amor é uma bola que fura. Minha poesia é uma bola. Um quadrado, na verdade, é uma bola que se desvirtuou. E a  vida é uma bola de neve.





segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Shaná Tová!

E Deus fez o vinho. E nos deu dez dias de ressaca. E no último dia nos tirou tudo, para mostrar o quanto é difícil ficar sem nada depois de tanto vinho. E depois durante todo esse tempo, Deus, tão ocupado que é com outros assuntos universais, nos julgou e nos condenou ao jejum maior ou à próxima garrafa de vinho.

E depois de tudo isso, aí sim, Deus fez o resto.

Shaná Tová Umetuká para todos! Judeus, não judeus, ateus, pagãos, poetas e músicos. Que o vinho nos faça submergir a esperança que só há dentro de nós. Que nos mostre o quanto é cara a saúde. Que nos engane completamente, e que assim nos faça feliz. Porque a Terra de Deus não é moleza não. Porém é a celebração da Vida. Em cada pedrinha solta na calçada, em cada roda de bicicleta girando há um menino indo comprar pão em alguma padaria em Teresópolis. E eu fui e sou, hoje, esse menino. Cheio de esperança, de ilusões, de sonhos a alcançar, pois que enquanto há vinho, tudo haverá. E há a certeza de que Deus ainda nos enfeita com confetes e nos bate na bunda quando é preciso, como a uma mãe.

Tenho a certeza de que a vida de todos os meus caros serão lindas, e irão para a frente, apesar dos precipícios que há. Pois que bêbados, não cairemos jamais. E sóbrios, Deus há de nos resgatar.

Parabéns à vida! Parabéns à todos! Nasce um ano novo de um povo,  pouco entendido, mas fundamental à caminhada humana na Terra. Cinco mil setecentos e setenta e três anos. Nossas rugas hão de nos mostrar a direção.

E afinal, todos nós saímos da mesma matriz. Somos todos irmãos. Somos todos um só. À semelhança de Deus.

FELIZ ANO NOVO!

beijos do

Alan


domingo, 9 de setembro de 2012

Pangea

Hoje estou com um sono louco. E como uma Pangea, meu mundo é um só. No meu cérebro as ligaduras estão ligadas. Entrelaçadas pertenço a um período Permiano. Minha Austrália, uma vez ligada à minha América do Sul, agora separada, há de voltar atrás, seguindo em frente em círculos, atingindo de novo seu ponto de partida. Meus seres microscópicos hão de se transformar em vários, até que enfim virem lagostins, e quem sabe um dia o que será de mim? 

Meu dedo dói. Está inflamado porque eu o comi. Como meus dedos como como a mim. Frase esquisita essa, mas é assim. Não há melhor maneira de explicar. Fome não é, ainda bem. Mas li um conto uma vez em que o sujeito preso numa ilhota num mar desolado, come a si mesmo por falta de comida. Conto genial da fase menos comercial do Stephan King. Ele estava começando e ainda não era famoso; buscava seu lugar ao sol. Engraçado como nossas fases menos comerciais são justamente as em que precisamos mais de dinheiro. Há uma ironia, senão, uma distorção, um erro em tudo isso.

A Terra não é mais Pangea. Hoje é bem mais complexa. Cheia de rios, mares e túneis. Cortes. Um dia há de voltar a ser o que foi. No início dos Tempos. (?)  As coisas seguem seu fluxo de se separar para poderem, de novo, se juntar. Com certeza não será Pangea. Será outra. Afinal somos a massa de modelar de Deus. Que deve ser criança como eu. E deve sentir sono cedo, de vez em quando. E outras vezes deve conversar com estrelas, que lhe dão palpites, como um filho quando conversa com sua mãe. E deve passar pomada no dedo que comeu, não por cause de fome, mas como tudo é fome - fome de alma, ou de amor, ou de flores, ou de águas, ou de retornos e lagostins.

Boa noite, amigos. O sono ajuda a escrever, porém meu travesseiro me chama, e é preciso sonhar com o dia de amanhã. Perdoem os erros de português, hoje não é dia de corrigir a vida. 




sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Soneto sem ar

Tanto procurei, que tanto achei
Tanto quis, que enfim consegui
Tanto fui, que assim cheguei
Triturado, pelas pedras que segui

Tanto viajei, que acabei chegando
Tanto olhei, saturei meus olhos
Tanto naveguei, que fui parando
Aos poucos encalhando em abrolhos

Um mar de absinto me alucinou
Perdido, engatado aqui estou
Nas pedras do amor que 'inda respira

Respira, não sei como, mas respira!
O ar que disponho mas que expira.
E tonto, nado, sem saber o que me afogou

Got to scrape that shit right off my shoes

Come on sweet Virginia
Save me from my fall
But, too bad... you don't exist at all