sábado, 28 de abril de 2012

Liberdade

À vezes a vida é um labirinto que começa na culpa e termina no perdão. Cabe a cada um de nós descobrir o seu caminho por dentro deste labirinto. Não é intransponível, é apenas difícil. E embora pareça impossível, é missão de cada um roer o elástico do próprio fardo.

Johnny tinha um pássaro, que vivia numa gaiola, comprada por Johnny para que o pássaro vivesse. Era um pássaro grande, branco, e que às vezes falava, como um papagaio. A gaiola era bem grande e pontuda. O pássaro cabia por inteiro na gaiola. A gaiola não cabia no pássaro.


Um belo dia Johnny olhou para o pássaro e sentiu dentro de si mesmo, que era hora de soltá-lo. Que um pássaro não podia pertencer a uma gaiola, e nem uma gaiola podia pertencer a um pássaro.

Então, Johnny levou o pássaro a uma floresta, bem no meio da natureza, e não querendo decidir pelo pássaro, repousou a gaiola em cima de uma pedra e simplesmente abriu a portinha da gaiola. E esperou que o pássaro saísse, mas o pássaro não saiu.

Depois de uns dez minutos o pássaro colocou sua patinha para fora e andou. Andou uns cinco metros e parou. Se virou em direção ao dono e ali ficou a olhar para ele, como a perguntar-lhe algo. Então o dono viu que aquele pássaro não podia realmente sobreviver sozinho, sem a experiência necessária para caçar, e não ser caçado. Teve a certeza de que aquele pássaro havia há muito se acostumado com o benefício da gaiola, e que pereceria se solto na imensidão da floresta.

Mas Johnny havia se preparado para isso, pois achava que sabia bem das coisas e era esperto. Então pegou a bolsinha de pano bem fino, que havia trazido com ele. Nessa bolsinha havia alpiste para que o pássaro pudesse sobreviver.

Johnny prendeu, com um elástico,  a bolsinha no pescocinho do pássaro para que ele tivesse com o que se alimentar. Mas a bolsinha era bem pesada, pois continha bastante alpiste, por isso o pássaro não conseguia se movimentar muito bem. Ele andava, mas não havia maneira de alçar voo.

Porém, Johnny assim o fez. Pois não poderia deixá-lo ali sem proteção. Johnny então fez um sinal para que o pássaro seguisse e foi embora. Sem ter o que fazer, o pássaro ficou em cima da pedra comendo o alpiste.

Então Johnny, que não tinha nem cérebro nem maldade dentro de si, em seu caminho de volta pela trilha da floresta,  pensou que não havia nada mais difícil que a liberdade de concebê-la.

Porém, um dia o alpiste acaba.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Justiça

Entro num ônibus para Ipanema e pago para o motorista. Alguns ônibus desta cidade não possuem mais o bom, velho e mau-educado trocador. Que pena. Essas empresas precisam economizar mais, não é? Sempre me perguntei: como é que um sujeito pode passar horas do seu dia cantando e chupando cana ao mesmo tempo sem virar um completo revoltado? Foi isso que pensei da última vez que o meu ônibus não parou no ponto e depois de uma boa corrida fui reclamar com o motorista, e depois de ser ignorado,  perguntei se ele era surdo ou idiota. Não adianta nem reclamar com ninguém. O mundo é um dominó. Reações geram reações, e o cara que trabalha sem condições, ou pelo menos no meio do furacão, não pode vir a ser uma boa pessoa. E isso, ao mesmo tempo que não lhe dá o direito de ser uma má pessoa, acaba corrompendo o senso de justiça que há dentro de si. Injustiça social tornado-se injustiça humana - talvez nunca o contrário.



Entro num ônibus para Ipanema e dou de cara, imediatamente, com o Lampião. Sim, o Virgulino, o próprio. Demorei uma fração de segundo pra identificar bem, se era uma miragem ou o próprio. Nunca saberei, pois nunca saberei nada nesta vida. Mas o sujeito trajava as roupas do ícone do latrocínio brasileiro, incluindo chapéu a rigor, e o mais impressionante - os óculos. Nossos olhos se chocaram e eu senti que seria melhor desviar o olhar. Penso que peixeira é só pra peixe mesmo. Sentei em meu lugarzinho, isolado do mundo, "and somebody spoke and I went into a dream..."

Fiquei pensando em justiça. O que será justiça? Eu acredito que sei o que é. Mas é justo eu achar que sei? Porque justiça é uma das palavras mais capciosas que há. É claro que para Hitler a justiça era matar todo mundo (na minha concepção ele ia acabar matando até os próprios "arianos" em algum momento). É claro que Hitler foi injusto. Mas tem gente que acha que foi o contrário. Justiça é algo como "crime hediondo", que está em nossa inteligentíssima e aplicada constituição (quá!), ou seja: algo difícil de definir, pois é controverso.

Virgulino, passados os anos, se tornou um personagem. Um ícone de quadrinhos. Um aventureiro, corajoso e viril. Convenhamos é bem mais fácil ser corajoso com um revolver na mão e dez homens dando cobertura. Mas no imaginário brasileiro ele se encontra em alto grau de, sei lá, "compaixão". (?) Admiração, deve ser a palavra certa. Será que compaixão leva à admiração, quando em doses altas? Olho para trás, me escondendo, e Virgulino havia se ido, como chegara - teria sido uma visão?



Tantos personagem hoje edificados não foram tão edificantes assim, na verdade. Por exemplo: o rei David. Personagem imaculado pela Bíblia judaica. Quem sou eu para dizer-lhe santo ou não. Daí a tal da justiça, tão complicada de se estabelecer. Pois o menino que viraria rei dos Hebreus, na verdade não virou logo após ter feito sua maior proeza contra o gigante inimigo filisteu, atirando-lhe uma pedra no meio da testa. Para falar a verdade sua maior e principal tarefa, e proeza, foi unificar um povo que era dividido em doze tribos que não se entendiam e viviam em constante combate, matanças, sangue, etc. E por isso a importância de David. Porém, David, foi um conquistador sanguinário. A unificação do povo foi na base do chicote e da espada mesmo. Formou um exército e foi à luta. Tivesse perdido a guerra a Bíblia seria outro livro. Até alianças com os "gigantes" filisteus ele fez para poder vencer e se sagrar o rei unificador, o mais importante de Israel. Não estou aqui para falar mal, ou mesmo julgar. Pois quem julga sabe. E eu só sei que nada sei. Mas me recuso a tomar a cicuta. Como dizia Francisco, não o santo (louco): "Eu vou até o fim!" 

Saltei do ônibus, fiz o que tinha que fazer, voltei pra Copacabana. Quase chegando no meu ponto entra uma antiga professora da academia de ginástica onde eu malho. Ela era, e continua sendo a mais linda, gostosa e besta, agora de alguma outra academia. Mas quem sou eu para julgar? Talvez se eu tivesse um metro e setenta e cinco, corpo melhor que o da Luana Piovani, olhos azuis, cabelos louros, com certeza eu seria diferente. Mas a menina sentou no banco ao lado do meu, e estava chorando cântaros. Mandei um suave "psiu". Ela olhou sem graça, porém sorrindo. Quem pode julgar alguém que sorri para outra pessoa durante o auge de sua própria dor? Mas...porque sorrir? Julgo, eu. Vergonha, é claro. Mas é injusto consigo mesmo sorrir falsamente quando a coisa dói. Seria muito mais natural, e poético, dizer um simples "oi" meio retardado, e soltar um lindo soluço de dor. Entretanto, me deu um olhar de revista Caras - onde às pessoas pagam para mentir suas dores. Dei outro "psiu", e perguntei, humanamente, porque é que ela estava tão mal assim; se ela precisava de ajuda, sei lá... Resposta singela: "Não obrigada... problemas." Rindo.

Saí do ônibus pois era chegado o meu ponto. Atravessei a rua e um táxi passando pela minha frente "pisou" em cima de um frasco vazio de plástico de shampoo, ou algo que o valha, que explodiu e acertou em cheio o meu saco. Julgamento: alguma mulher idiota, ignorando a lata de lixo que ficava há dez metros, simplesmente resolveu sujar um pouco mais essa cidade imunda, e jogou no chão o que havia passado na sua cabeça uns minutos antes. O taxista imbecil, correndo pra avançar o sinal vermelho à sua frente (como se não fosse avançar de qualquer maneira) passou pelo frasco como teria passado por mim sem o menor remorso. Ouviu-se a explosão do ar sendo expelido, arremessando-o diretamente no meu saco, que não tinha nada a ver com o taxista nem com a madame, nem com a rua imunda de Copacabana. Mas isso é um julgamento, então não vale. O motorista podia estar correndo para salvar a sua mãe, e o frasco, quem sabe, não caiu de um avião? Ops! Julgamento de novo. Que merda. É possível o ser humano ser zen e "pensar" ao mesmo tempo?

Esse texto surgiu dentro do ônibus. Eu pensava em justiça, e natureza, e vida, e filosofava minhas amarguras sem meu Ipod pra ajudar. E me veio à mente um velho mito, ou não, cabalístico, judaico, inteligente, que diz que a civilização se encontra sustentada por dez sábios, justos. Que são os pilares do Homem. E que enquanto existirem dez justos o ser-humano existirá. Sempre achei isso fascinante. Até porque ser justo é talvez a coisa mais difícil que há. Há quem ache que é justo o sujeito do jogo do bicho desaparecer caso não pague o prêmio de um apostador. Há quem ache que é justo o presidente e um país ter benefícios de rei, sendo ele apenas um gestor dotado de um cargo público. Há quem ache justo haver reis que não contribuem em nada para a sociedade, apenas com um título, enquanto pessoas morrem de fome na África. Reis africanos inclusive! Porém, há gente que sabe que não é justa, que não é correta, que erra, mas que não sai por aí atropelando pessoas ou matando por qualquer razão "justa".




Então me veio na mente que essa passagem oral cabalística judaica, que fala sobre os dez supremos sábios, pilares do Homem, pode ser uma metáfora. Pois o judaísmo é sempre cheio delas. Talvez esses dez justos não sejam humanos, visto que até o rei dos reis cometeu lá suas gafes. Talvez sejam plantas, talvez sejam florestas. Pois sem elas não é possível a nossa civilização, e nada mais naturalmente justo do que uma floresta. Pois nela reside a calma devastadora do universo, sem dois pesos e duas medidas, sem julgamento de qualquer espécie. Uma planta apenas existe, e só. (Embora existam árvores injustas sim, mas aí complica a conversa...) Talvez os sábios sejam dez florestas ainda naturalmente conservadas.

Independente dos sábios existirem ou não, acho que quando não houver mais dez florestas no mundo, assim perecerá o homem da face da Terra. Sei que não sou um deles. É uma pena e peço perdão. Mas faço minhas músicas, e em minha abstração inconsciente, acho que por alguns segundos consigo enxergar além do simples. Mesmo assim, de que valho eu? 

Ajeitei meu saco, andei em direção ao meu prédio, o porteiro, que vive estudando para tentar algum dia não ser mais porteiro (e isso é justo demais), abriu o portão, e assim encerro este texto. Com a vida continuando a passar.

sábado, 21 de abril de 2012

A leste de um Sonho

Eu era uma montanha, um vale no norte de uma terra árida, porém eu era um oásis. Rios se encontravam em mim. Pássaros se alongavam sob meus ramos. Grilos embebiam meus galhos. Eu era a Califórnia. Cheia de brisa. Eu talvez viesse do mar, ou do deserto, mas em minha pele se escondia o sal. Almas passavam pelas minhas estradas. Olhos me cruzavam às intercessões. Minhas imensas ondas resplandeciam sem que ninguém tivesse coragem de socorrê-las. Eu era um andar de Steinbeck, um sonho de Hemingway. Eu era a dor das palavras imigrantes. O cheiro das sebes e a água dos cáctus. Eu era a turba dos jacarés. Os índios me respeitavam, e também os brancos, pois eu era tanto o ouro que jorrava pelas areias, quanto os caminhos que levavam ao leste. Meu barco se chamava poesia, e navegava num imenso cânion imerso em lágrimas da terra. Esta terra tão antiga, que não existe idioma que a descreva, apenas o passo dos andarilhos, e dos palhaços errantes, e as fogueiras dos viajantes, e os amores dos bisões de olhares doces e gladiadores.


E no meio disso tudo existiu a pena. Pois se eu era tudo isso. Você foi a maré baixa e a maré dos lagos ciprestes. Você foi pássaro alçando voo apesar da solidão das árvores. Se eu era  a Califórnia, você foi Nevada, com seus desertos imaginários e suas minas de urânio visitada por turistas, onde comprei um anel de cobre lindo, mas que tornou meu dedo musgo.  Foi a estrada da minha alma, reta e sem fim, como num conto de algum escritor sem esperança e repleto de névoas – o sonho jamais desvendado.  Você foi a intercessão de meus olhos suculentos e frágeis, perdidos numa estrada sem carros - Highway 66. Você foi o surfista mais maluco a descer a onda mais invulnerável de Waimea. E você sorria enquanto imigrante das palavras. As sebes dividiam suas águas, e seus cáctus eram jacarés do Nilo. Você foi o ouro vasto, que já roubado pelos espanhóis, não alimentava de sonhos  aventureiros, e que abandonou índios fluorescentes desde milhares de anos. Você foi a pele que descascou em Monterrey. Foi para o sul, e o caminho era o leste. Sua poesia era um barco, e navegou incólume por milênios um imenso deserto plano, ainda não moldado por cânions milionários. E esta descrição não atinge a imensidão de um idioma que a descreva, e que você foi. Passo de andarilhos, errantes palhaços , fogueira de viajantes... os bisões ainda gritam seu nome ao som de North Dakota.  Seus olhares doces e gladiadores carregam no fundo de suas pupilas milenares a história do que você fez.



terça-feira, 17 de abril de 2012

Soneto de Cegueira

Minha escura e amarga vida
Simples canhão de carga ferida
Tive que saber cutucá-la
Atirar, sem ver, seus becos e vielas

Superestimar aromas de rosas "intactas"
Estáticas ruas e negras via-lactas
Campos malgrados onde sonhos não vi
Duelos desconhecidos sem saber se morri

Em meus amores vãos
Cortinas acorrentadas
Prenderam-me ao chão

A um olhar que fascina e ata
Nunca saberei a distância que me dão
Pois sou cego e não vejo nada

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Além de Nós

Noel Rosa caminhava pelas vielas ainda existentes da Lapa antiga. Caminhava e pensava em música, em textos, e nas letras que iria embelezar grandes melodias de seu amigo Vadico. Caminhava em solo rochoso, farto de cultura, gerado bilhões de anos atrás por seres que nem respiravam oxigênio. Seres mitocondriais, que dominavam o planeta, ainda dominam, e que bilhões de anos depois deram forma e inteligência superior a um Noel Rosa. 

Mais fundo ainda, se formos prescrutar o âmago da Terra, Noel andava em cima de uma imensa camada de magma rochoso incandescente e líquido, sem o qual os pés do poeta não andariam para lugar nenhum. 

Indo ainda mais fundo, Noel, provavelmente nem sabia que no meio deste magma - rastro de estrela - passeava ele por uma bola imensa composta de ferro fundido, e tão quente, que sem este seu ambiente de trabalho não geraria o calor das sua músicas.

Se quisermos ir mais além ainda, nos afastaremos de nosso mundo, e em um momento rápido, Noel seria apenas um ponto numa bola azul. Sua música não ultrapassaria a atmosfera, não reverberaria entre cometas, e totalmente adormecida, não chegaria nem ao fantástico som "ommmmm" do universo em expannsão.




Neste determinado momento uma criança se encontra escovando os dentinhos frente a um espelho redondo de uma casa na Barra da Tijuca. Ela nunca ouviu falar de Noel,  mas deve ter ouvido no toca discos do pai alguma coisa linda, sem saber que existia. Esta coisa linda um dia chamará, ou não, sua atenção, mas no momento ela está escovando os dentes, com sono, pensando na prova de matemática, sem pensar que pode estar estudando a ciência do universo. Seus olhos fixos no espelho liberam um sorriso de noite bem dormida, e nem passa pela sua cabecinha que bem embaixo desta noite bem dormida existia um rojão de milhões de graus centígrados, pertencentes a um planeta azul matemático e químico.

Indo além, chegamos a um cinturão de asteroides que colidem, ou seguem em marcha seguindo à gravidade de alguma coisa. E o CaetanoVeloso, que toca no rádio do carro que leva o moleque para a escola, nunca deve ter se dado conta de que não flutua ao leu, como gostariam os baianos. Eles não flutuam, apesar de sua música. Não é ele que transgride, e sim a gravidade bem colocada por Einstein, que nos faz deslizar ao encontro de matéria alienígena.



Esse é um pensamento que eu, desde criança tenho. Construímos uma sociedade "sapiens" em cima de uma bola (???)! Andamos sem perceber que nossa linha nunca é reta. E eu, menino, quando minha mãe me levava à praia de Copacabana, pensava conseguir ver a África ao longe, se realmente forçasse a vista e compenetrasse meus olhinhos ingênuos.

Somos os próprios alienígenas, acostumados com nossa feiura. Tem vezes que me encaro no espelho, e apenas foco nas minhas pupilas, e sinto de repente um mal estar, algo como se não fosse eu. Consigo , em um momento, apreciar, ou melhor, perceber o alienígena que sou. O ser que seria completamente diferente a qualquer outra manifestação de vida vinda de qualquer outro lugar, ou mesmo residente aqui - um cavalo, por exemplo.

Não sei o que nos evoluiu em algum momento pertencente à noite dos tempos, onde o macaco em um segundo , em um pensamento virou humano. Acho que este pensamento que nos evoluiu pode ter sido algo tão prosaico, tão simples, que talvez tenha sido um cortar de unhas pra poder se sentir a ponta dos dedos de forma mais gostosa. Ou quem sabe um tropeção num galho o fez usar havaianas. Não importa. Ou melhor, é tudo que importa!

Sempre me foi estranho a sensação de que Noel Rosa pudesse andar pelo Boulevard 28 de Setembro sem nunca pertencer realmente a ele, e sim a um universo escondido, misterioso, que o tornava alienígena de sí próprio, e simples poesia sempiterna.



terça-feira, 10 de abril de 2012

Sobre Deus

E Deus criou o dinheiro... e depois a luz, o firmamento,etc, etc, etc.


terça-feira, 3 de abril de 2012

Lavará

Aos rios as águas
Às montanhas as neves
Às florestas as árvores
Às praias o sal
Aos vulcões a lava
Ao Homem a cidade
À poesia os poetas...


Aos rios as florestas
Às montanhas as águas
Ao Homem a neve
Ao sal os poetas
Aos vulcões as árvores
Às praias a cidade
À poesia a lava

A poesia lavará.