Ele se chamava João e dirigia um táxi há alguns meses. Era um ser sozinho, não tinha mulher nem filhos, nem família. Tinha a si mesmo e só. Ralava duro e se sentia uma pessoa muito solitária! A vida de taxista não era fácil. Um economista amigo disse uma vez que mede-se o PIB de uma nação pela quantidade de taxistas nas ruas. Tem a ver... Mas voltando ao João. Ele pegava às 7 da matina e ia até às 10 da noite. Às vezes ainda pegava um gringo na madruga, ou uma piranha, um travesti... Dizia pra si mesmo: é a vida. Cliente não tem sexo e eu não tenho opinião. Quem há de dizer que ele não estava certo? Sobreviver no Rio de Janeiro não é moleza não!
Um belo dia, circulando por copacabana, um senhor idoso fez sinal e ele atendeu. O dia tava fraco, 5 horas rodando e nada... qualquer voltinha ao quarteirão só pra ajudar a pagar a diária e o gás tava valendo. O senhor entrou, deu boa tarde, muito distinto e educado falou: - Hoje é seu dia de sorte, rapaz! Me leva pra São Paulo.
Ele quis perguntar, acabou não perguntando... e o senhor: - Sim, pode ser pelo taxímetro, sem problemas. Um sorriso de espanto brotou no rosto do João. Desconfiado, ele perguntou: - E a volta? O senhor vai pagar a volta? - recebeu a curta mas simpática resposta: - Óbvio. E assim foram.
São 400 km só de ida. Ia dar uma fortuna! Que felicidade para João. João nem podia acreditar e até já passara pela cabeça a ideia de poder ser um assalto de meio de estrada. Mas os quilômetros foram passando e já na RJ/SP ele estava tranquilo. Tentou puxar uma conversa mas o homem nada falava. Só olhava a paisagem. No meio do caminho o senhor pediu para que parassem para almoçar. Pararam num daqueles postos de gasolina que tem de tudo e almoçaram juntos sem a menor conversa. O senhor pagou pelas refeições e seguiram viagem.
Quando chegou a São Paulo pediu para que o levasse ao bairro dos Jardins, onde ele prontamente recebeu o pagamento e um dinheiro extra para que se hospedasse num hotel cinco estrelas e o esperasse até o dia seguinte quando retornariam ao RJ. Comeu e bebeu de tudo no hotel. Tudo na conta do senhor desconhecido.
No dia seguinte pegaram a estrada para o RJ. E foi a mesma coisa de antes, o homem quieto, João tentando umas puxadelas de assunto, mas nada mais do que a vista pela janela. Como antes, pararam num posto, almoçaram e voltaram à estrada. Nada de palavras, nem olhares nem afinidades.
Enfim chegaram a Copacabana onde o homem iria ficar no seu destino final. João agradeceu e olhando no taxímetro viu que o valor era muito alto. Aliás, ele já sabia, vinha conferindo sempre durante a viagem. João então olhou para trás num ímpeto de oferecer algum desconto e agradecer, e afinal receber o dinheiro. Foi quando ele viu que o homem não estava mais lá, e que em seu lugar havia uma criança.
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